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Boletim Eletrônico Nº 1624 - 10/10/2024




DESTAQUES

A diáspora científica brasileira: é hora de olhar para o passado para repensar o futuro


"[Nós] Fazemos muito com pouco". Essa é uma das frases que repercute frequentemente, quando se discute ciência no Brasil. Um dos principais reflexos dessa realidade é a chamada "fuga de cérebros" ou "diáspora científica" um movimento que não é novidade entre os pesquisadores. Um dos primeiros ciclos de "fuga" ocorreu durante a ditadura militar, desde então, o processo tem se repetido com maiores ou menores intensidades. Contudo, desde a redemocratização, o movimento voltou a ganhar força, especialmente durante governos com posturas de antecipação. Diversas medidas que desvalorizaram a ciência foram adotadas, um cenário que se intensificou nos últimos anos.

Segundo dados do Governo Federal, publicados no "Indicadores Nacionais de Ciência, Tecnologia e Inovação 2022", os investimentos em ciência e tecnologia, tanto em nível nacional quanto estadual, começaram a ser reduzidos em 2016, com cortes mais acentuados a partir de 2019 e só voltaram a aumentar em 2023. Apesar dessas severas restrições orçamentárias, o país manteve um crescente contínuo na produção científica. Nesse contexto, encontram-se profissionais altamente qualificados, com intensa produção científica, mesmo enfrentando um contingenciamento severo de recursos.

Com isso, esse movimento de "fuga" reflete um problema estrutural edificado ao longo dos últimos anos no país. Qual é a solução encontrada por esses pesquisadores? Assim como todo trabalhador, eles decidiram buscar melhores condições de trabalho e oportunidades de pesquisa. O detalhe é que esses "ambientes mais favoráveis" se encontram no exterior, onde os pesquisadores contribuem para o avanço da Ciência, Tecnologia e Inovação em outras nações.

Segundo Soraya Smaili, Maria Angélica Minhoto, Pedro Arantes, Tamires Tavares e Renato Sergio Balão Cordeiro, pesquisadores do Sou Ciência, "o subfinanciamento persistente em ciência e tecnologia, juntamente com à ausência de políticas públicas robustas, evidencia a fragilidade do sistema nacional de pesquisa e a crescente perda de talentos qualificados". Além disso, um levantamento realizado pelo Laboratório de Estudos sobre Organização da Pesquisa e da Inovação (GEOPI/Unicamp) e publicado no Blog Sou Ciência da Folha de São Paulo revelou que "mais de 70% dos cientistas brasileiros que se encontram no exterior não têm previsão de retorno ao país" e que "para muitos, o retorno ao Brasil não é uma opção viável, o que desafia a eficácia de programas de repatriação".

Os dados dos Indicadores Nacionais de Ciência, Tecnologia e Inovação de 2022 trazem uma redução expressiva no número de bolsas de pesquisa, principalmente no CNPq, com uma diminuição de cerca de 30% ao longo dos últimos anos. As saídas de profissionais especializados cresceram até 40% em algumas regiões na última década. A globalização e as ofertas mais atrativas no exterior são os principais fatores que impulsionam essa mobilidade, especialmente nas áreas de tecnologia, saúde e pesquisa científica, que juntas representam mais de 50% das perdas. Países em desenvolvimento são os mais prejudicados, com cerca de 30% de seus talentos deixando o país em busca de melhores condições de trabalho.

Esses números reforçam a necessidade urgente de políticas eficazes e maior investimento em ciência e tecnologia para conter a fuga de cérebros e reter talentos qualificados. Segundo o presidente do CNPq em entrevista à Agência Brasil (2023): "nós estamos hoje em dia formando 24 mil doutores por ano, mas as ofertas de emprego, concursos públicos, etc, não chegam a mil." Este é um alerta que indica que, além do investimento em bolsas de estudos, é preciso que mais recursos sejam destinados à construção do parque tecnológico brasileiro e à contratação de profissionais com condições adequadas de trabalho.

A "fuga de cérebros" é apenas um dos reflexos do estrangulamento no investimento tecnológico e científico do Brasil, as consequências englobam ainda desigualdade social, baixo desenvolvimento econômico e enfraquecimento da soberania nacional. Assim sendo, não são apenas os pesquisadores e professores que sofrem os efeitos colaterais desse problema, mas toda a sociedade.

Há recentemente um esforço do Brasil em retornar cérebros que estão no exterior, no entanto, os recentes editais publicados também trouxeram críticas sobre como os recursos estão sendo gastos de forma discrepantes com o investimento em ciência e tecnologia. Como trazer esses pesquisadores sem dar, a longo prazo, formas de mantê-los e fomentar sua pesquisa?

Ainda há muitos problemas a serem resolvidos, há interesse em buscar soluções, mas ainda temos muitos passos a frente, e desafios ainda gigantescos para transpor.


Fonte:

Dra. Jéssica E. S. Fonsaca; Mackenzie – MackGraphe

Dra. Samara Soares; Centro de Energia Nuclear na Agricultura da Universidade de São Paulo

Dr. Caio Henrique Pinke Rodrigues; Departamento de Química da Faculdade de Filosofia, Ciência e Letras de Ribeirão Preto da Universidade de São Paulo

Dr. Francisco Luan Fonseca da Silva; Universidade Estadual do Ceará




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