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Boletim Eletrônico Nº 1625 - 17/10/2024




DESTAQUES

Seletividade química na limpeza e remoção de materiais em obras de arte – impactos nos processos de conservação e restauro


Atualmente a química e a conservação e restauro de bens culturais andam lado a lado. Os químicos podem atuar nesta área em três grandes vertentes: identificação de materiais constitutivos de bens culturais, estudo do mecanismo de degradação de materiais utilizados em obras de arte e a preparação e caracterização de novos materiais para serem utilizados em intervenções de restauro.

Cotidianamente, os profissionais da conservação e restauro utilizam solventes para limpeza e remoção de materiais indesejáveis presentes nas obras de arte. Estes materiais podem ser vernizes envelhecidos, intervenções de restauro mal sucedidas, adesivos temporários utilizados para fixação de camadas de tinta, dentre outros. O uso de solventes em pinturas necessita cuidados especiais, pois pode acabar solubilizando camadas de tinta originais e causando danos irreversíveis nas obras de arte, além do poder de penetração levando a danos no suporte como a tela numa pintura de cavalete, madeira numa escultura policromada ou no reboco no caso de uma pintura parietal.

Com objetivo de mitigar possíveis danos causados por solventes, químicos e cientistas de áreas correlatas tentam desenvolver novos materiais para serem utilizados no lugar dos solventes. Um caso de destaque foi a utilização de enzimas produzidas por bactérias para remoção de cola usada na restauração da igreja "Santos Juanes" em Valência, Espanha. Esta cola foi utilizada para fixação de pinturas parietais – afresco, produzidas por Antonio Palomino no século XVII, durante um processo de restauro no ano de 1960. A matéria pode ser acessada neste link.

Na área de artes e restauro, muitas biomoléculas são utilizadas em pinturas como gorduras, proteínas e carboidratos com diferentes objetivos. Por exemplo, existem tintas a base de óleo e proteínas, cola a base de proteínas e carboidratos, vernizes a base de óleos, dentre outras aplicações. Estas biomoléculas possuem alta massa molecular e sua remoção utilizando solvente muitas vezes é morosa e causa efeitos colaterais nos materiais originais. Aí entra o papel fundamental das enzimas.

De modo simplista, enzimas são proteínas com atividade catalítica, ou seja, aceleram reações químicas, muitas vezes difíceis de ocorrer num curto período de tempo. As enzimas são seletivas aos seus substratos, isto é, vão atuar cataliticamente apenas num grupo específico de moléculas. Assim, existirá uma classe de enzimas para degradar cada uma das biomoléculas utilizadas em arte e restauro. Por exemplo, proteases degradam resinas protéicas e lípases como as enzimas glicerol éster hidrolases degradam óleos. A grande vantagem é a seletividade durante o processo de restauro das obras de arte contribuindo com o que é preconizado na área do restauro com a premissa da mínima intervenção, respeitando aspectos estéticos, históricos e culturais das obras.

Mesmo diante das vantagens apresentadas, o custo de extração, imobilização e purificação enzimática é alto, tornando o investimento muitas vezes inviável para uso direto na restauração. Todavia, a pesquisa descrita na matéria acima mostra que os pesquisadores utilizaram diretamente bactérias que produzem naturalmente as enzimas necessárias para a remoção da cola, tornando o método mais acessível e aplicável de fato.

Por fim, este é apenas um estudo que mostra a importância da área de química e ciências afins na busca de soluções tecnológicas prática para artes, conservação e restauro de bens culturais e uma janela de oportunidade para futuros pesquisadores em nosso país.


Fonte: Thiago Guimarães Costa, Químico e pesquisador da Fundação Catarinense de Cultura – FCC



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