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Boletim Eletrônico Nº 160 - xx/0x/2024




DESTAQUE

Susana Torresi combina a eletroquímica com o estudo de propriedades plasmônicas


Ela fará a conferência de abertura da 48a Reunião Anual da SBQ, que será realizada de 8 a 11 de junho de 2025, em Campinas


Susana Inés Córdoba de Torresi chegou ao Brasil em 1990, casada, com um filho e grávida de outro, com um contrato de trabalho provisório na Unicamp, e a expectativa de passar uma breve temporada no país antes de retornar para a Argentina, onde tinha um emprego garantido lhe esperando. Mas ela foi ficando, galgou funções em universidades de excelência, os filhos cresceram, e ela adotou o Brasil como lar.

Susana Torresi (USP): "De todas as honrarias que recebi na minha carreira, fazer a conferência de abertura da RASBQ é a mais comovente e de maior responsabilidade. É uma alegria imensa"

Ela teve o privilégio de passar por três das melhores instituições de ensino superior do país e entre Campinas, São Carlos e São Paulo, construiu uma carreira premiada na eletroquímica. Concluiu em torno de 80 orientações, publicou mais de 200 trabalhos, participou de sociedades científicas, assumiu postos de gestão na universidade e editou periódicos científicos, incluindo Química Nova, onde trabalhou por 20 anos.

Susana Torresi fará a conferência de abertura da 48a Reunião Anual da SBQ, que será realizada de 8 a 11 de junho de 2025, em Campinas (SP), tendo como tema: Emergências climáticas? - A Química reage!

"De todas as honrarias que recebi na minha carreira, essa é a mais comovente e de maior responsabilidade. É uma alegria imensa", afirma.

Susana mergulhou na eletroquímica ainda durante seu trabalho de conclusão de curso: "Havia várias linhas nas quais eu poderia trabalhar. A eletroquímica me atraiu mais que as outras, sobretudo do ponto de vista experimental e prático", recorda.

Em sua visão, a eletroquímica foi vista durante muito tempo como uma ferramenta para caracterização de materiais. Mas atualmente, com a questão da transição energética e a mudança para uma economia de baixo carbono, ela se transformou em uma ciência central, pois é através da eletroquímica que se chega ao hidrogênio verde, à amônia verde, e a baterias mais sustentáveis.

"No meu doutorado estudei bastante a reação de desprendimento de oxigênio, e postulei que o catalisador mais eficiente para esta reação era o (oxi)hidróxido de níquel, misturado com pequenas quantidades de ferro. Isso foi no final dos anos 80. Somente a partir de 2010 é que vimos um aumento no interesse e na publicação de artigos sobre esta reação, mas agora já com foco na obtenção do hidrogênio verde. Então, o estudo dessa reação é um orgulho científico que carrego comigo", conta a docente.

Em sua conferência, a professora Susana quer falar também sobre sua preocupação científica atual: a eletroquímica combinada com as propriedades plasmônicas dos materiais. O efeito plasmônico em uma nanopartícula é um fenômeno em que as partículas carregadas (elétrons) na superfície de uma nanopartícula de metal, como ouro ou prata, começam a vibrar intensamente quando expostas à luz de um determinado comprimento de onda.

Luiz Henrique Dall'Antonia (UEL): "O trabalho da professora Susana sempre foi muito inovador, em temas de alto interesse"

Imaginemos uma nanopartícula como uma pequena bolinha de metal (como ouro ou prata) muito, muito menor que um grão de areia, quase invisível a olho nu.

Quando a luz atinge essa nanopartícula, ela faz com que os elétrons comecem a vibrar em uma frequência específica. Isso acontece porque os elétrons estão "presos" dentro da nanopartícula e não conseguem se mover livremente, então, eles oscilam de um lado para o outro, acompanhando a luz. Esse movimento dos elétrons é o que chamamos de ressonância plasmônica.

Essa ressonância faz com que a nanopartícula interaja com a luz de uma maneira especial, refletindo e absorvendo certos comprimentos de onda, o que pode mudar sua cor. É por isso que nanopartículas de ouro, por exemplo, podem aparecer vermelhas ou azuis, dependendo do tamanho e do formato delas.

"Esse fenômeno é útil em muitas áreas, como em sensores, onde as nanopartículas mudam de cor quando entram em contato com certas substâncias, ou na medicina, onde essas partículas podem ajudar a atacar células específicas no corpo", explica o professor Luiz Henrique Dall'Antonia, da Universidade Estadual de Londrina, ex-aluno e atual colaborador da professora Susana.

"É um tema novo na eletroquímica, com muito poucos trabalhos publicados. Começou com físicos e químicos de materiais, mas nos congressos de eletroquímica ainda é incipiente. Meus objetivos são entender os mecanismos pelos quais a eletroquímica é modificada pela plasmônica, e melhorar a cinética e a seletividade das reações", assinala a professora Susana. Melhorar a cinética da reação significa mais eficiência energética. Melhorar a seletividade significa aumentar o controle sobre a reação de forma a favorecer um produto específico de interesse.

Nesse sentido, ela participa atualmente de dois projetos temáticos Fapesp. Em um deles, o objetivo é mostrar que a combinação de eletrocatálise com catalisadores que tenham propriedades plasmônicas favorece a síntese de amônia e ureia verde. Em outro, trabalha com a plasmônica em modelos biológicos (biomoléculas ou organismos vivos) para investigar os efeitos toxicológicos causados por nanopartículas de prata sob excitação plasmônica, em pulgas d'água. Este é o primeiro estudo sobre os efeitos plasmônicos em invertebrados aquáticos.

"O trabalho da professora Susana sempre foi muito inovador, em temas de alto interesse", declara o professor Dall'Antonia. "Essa questão da toxicidade das nanopartículas de prata é seríssima, pois com a pandemia vimos um aumento muito grande na produção de máscaras e outros tecidos hospitalares produzidos com essas nanopartículas. Tudo isso foi para o lixo, e com trabalhos como o dela, começamos a entender como essas nanopartículas afetam a vida em ambientes aquáticos."

Saiba mais:

Transformative nanobioplasmonic effects: Toxicological implications of plasmonic silver nanoparticles in aquatic biological models: https://doi.org/10.1016/j.scitotenv.2024.176592

Plasmon-enhanced electrochemistry: A sustainable path for molecular sensing and energy production: https://doi.org/10.1016/j.coelec.2023.101422


Texto: Mario Henrique Viana (Assessoria de Imprensa da SBQ)



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