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Por que devemos ter mais mulheres laureadas na área das ciências?
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Historicamente, mulheres foram sistematicamente excluídas de todos os aspectos na área das ciências. Muitos dos critérios que são usados hoje para avaliar o mérito de um(a) profissional foram estabelecidos em um contexto onde as mulheres não tinham igual acesso a recursos, posições de liderança ou redes de colaboração. Consequentemente, seu trabalho foi subvalorizado por décadas. Reconhecer mais mulheres não é uma concessão, mas uma correção de injustiças estruturais.
E por falar em reconhecimento, vamos discutir o Prêmio Nobel 2024. Este ano, dos doze laureados nas seis categorias, apenas uma mulher foi contemplada: a sul-coreana Han Kang, que, aos 54 anos, recebeu o Nobel de Literatura 2024 pela sua "intensa prosa poética que confronta traumas históricos e expõe a fragilidade da vida humana". Embora o reconhecimento de Han Kang seja merecido, a persistente sub-representação feminina no Prêmio Nobel evidencia uma realidade desconcertante: a dificuldade em equilibrar a visibilidade e o valor das vozes das mulheres, mesmo em tempos de crescente igualdade de gênero.
A premiação, que ao longo dos anos raramente reconheceu mulheres, ainda causa estranheza, dado o enorme avanço social e a crescente admiração por trabalhos desenvolvidos por mulheres. Inúmeras cientistas altamente qualificadas, cujas contribuições são cruciais para o progresso da humanidade, continuam a ser ofuscadas por vieses de gênero. Esta é uma realidade que precisa ser enfrentada com urgência.
Muitos podem pensar que inserir "obrigatoriamente" uma mulher entre os laureados poderia ser uma "inclusão forçada", mas tal fato está muito longe disso. Estudos já mostraram que mulheres são muito menos citadas, muito menos convidadas para conferências e menos indicadas para prêmios, apesar de muitas vezes terem desempenhos acadêmicos e científicos comparáveis, ou até superiores, aos de seus colegas homens. A diversidade de pensamentos e experiências é fundamental para o avanço científico.
A ausência de mulheres entre os laureados não reflete falta de competência, mas sim um sistema enviesado que limita a visibilidade de suas contribuições e realizações. Quando jovens cientistas e estudantes mulheres veem outras mulheres sendo laureadas, elas se inspiram e passam a se enxergar nesses espaços de prestígio até então tão distante para elas. Isso gera um ciclo positivo de maior participação feminina na área das ciências. Prêmios não apenas celebram realizações individuais, mas também sinalizam para a sociedade o que é valorizado. Ao incluir mais mulheres, incentivamos mais meninas a seguir carreiras científicas e transformamos o futuro da ciência e dessas jovens.
Os prêmios científicos frequentemente se baseiam em critérios que privilegiam redes de poder e visibilidade nas quais mulheres historicamente tiveram menor acesso. Portanto, para garantir que o mérito seja realmente reconhecido, é necessário reavaliar esses critérios com um olhar crítico para identificar e mitigar os vieses de gênero que ainda persistem.
Em geral, reconhecer mais mulheres com prêmios científicos não significa "forçar" sua inclusão, mas sim garantir que o mérito delas, há muito tempo ignorado, finalmente seja celebrado. Não se trata de criar prêmios simbólicos, mas sim de criar oportunidades justas para que todas e todos possam ter seu trabalho valorizado. Afinal, o avanço científico é feito por todos e todas, e as mulheres merecem estar lado a lado na lista de laureados.
Fonte: Profª Drª Luana da Silva Magalhães Forezi (UFF), Coordenadora do Núcleo Mulheres SBQ
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