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Boletim Eletrônico Nº 1632 - 05/12/2024




DESTAQUE

Maysa Furlan será a primeira reitora da Unesp


Ela foi eleita com dois terços dos votos e comandará a instituição de quase 50 mil alunos, 8 mil servidores e orçamento de RS 4,5 bilhões

A química Maysa Furlan será a primeira reitora da Universidade Estadual Paulista - Unesp. Atual vice-reitora, a chapa por ela encabeçada foi eleita com mais de 67% dos votos em uma disputa tripartite, e sua vitória foi ratificada pelo governador Tarcísio de Freitas. Ela é docente do IQ-Araraquara desde 1987, e sócia da SBQ de longa data. Nos próximos quatro anos, ela estará à frente desta universidade fundada em 1976, que tem quase 50 mil estudantes, mais de oito mil servidores, e cujo orçamento anual gira em torno de 4,5 bilhões de reais.

Profa. Maysa Furlan: "Estamos passando por uma transição interessante que é o fortalecimento do sistema de inclusão, que vem também com o sistema de permanência, de acolhimento à diversidade. É uma transição para um sistema que considera a questão da formação em termos de direitos humanos." Foto: Tiago Queiozroz/Estadão

O que significa sua eleição para as mulheres?
Uma mulher em cargo de destaque sempre traz uma nova esperança e uma nova possibilidade para as mulheres competentes, que podem concorrer a qualquer cargo pela sua competência, inteligência e sensibilidade. Significa que podemos almejar cargos para os quais temos a contribuir, por nossa habilidade e competência.

Eu gosto muito das instituições. Na própria SBQ, fui do Conselho e participei de várias gestões. Ser eleita reitora da Unesp me traz desafios - e eu gosto de desafios. Mas muito além disso, é uma oportunidade de contribuir para a continuidade do bom trabalho que fez da Unesp uma instituição forte, qualificada, e de renome internacional.

Quem foi a mulher que te inspirou a ser tudo que você quis?
Foi minha mãe. Ela era muito inteligente e sempre esteve à frente de sua época. Também foi professora e sempre nos incentivou muito – a mim e à minha irmã – a sermos independentes, a buscarmos nossa felicidade naquilo que almejávamos. Essa é a questão fundamental. Ela sempre disse que tínhamos que ter a liberdade que merecíamos, que cativássemos esses preceitos e que cultivássemos esses caminhos, para que fôssemos independentes e pudéssemos caminhar com as próprias pernas.

Você foi eleita com mais de dois terços dos votos. Isso reflete os acertos dessa última gestão em que você foi vice-reitora. Quais foram esses acertos?
Eu acho que essa gestão teve um papel fundamental. Nós assumimos em 2021 e encontramos uma universidade bastante desanimada, que há muito não contratava docentes nem técnicos administrativos.

O slogan da nossa campanha lá atrás (2021), que fala sobre dialogar e construir, foi levado muito a sério. O diálogo dentro de uma universidade tão vasta como a Unesp, que percorre todo o estado de São Paulo, que tem suas diferentes realidades, suas diferentes perspectivas, estava bastante prejudicado por esse período crítico que nós atravessávamos. Então acho que um dos maiores desafios foi encurtar as distâncias dentro da Unesp, com diálogo, acolhimento, e reconstrução.

Penso que o reconstruir das relações, dos valores, da missão da nossa universidade foi muito importante. Rediscutimos o PDI (Plano de Desenvolvimento Institucional) e acho que hoje a universidade é muito mais plural e inclusiva. Toda a comunidade reconheceu isso. Nós avançamos demais, transformamos, e alcançamos novos patamares qualitativos.

A excelência acadêmica da universidade se tornou muito mais visível. Ampliamos o relacionamento com a sociedade por meio dos projetos de extensão. E eu penso que agora esse novo projeto visa a fortalecer o protagonismo da universidade, até porque temos vários enfrentamentos… desafios locais e globais.

E quais serão as prioridades da sua gestão?
Temos prioridades em ensino, pesquisa e extensão.

No ensino de graduação e pós vamos dar continuidade à modernização dos mecanismos de gestão, e assim, trazer pessoas melhor qualificadas para que possam cumprir seu papel transformador na universidade.

Penso que temos que avançar em alguns aspectos na graduação: ampliar e qualificar nossos laboratórios, investir em licenças e plataformas digitais. Estamos criando o Laboratório do Futuro, que deve ser inaugurado no primeiro semestre e traz uma ferramenta de I.A. fantástica.

Precisamos fomentar uma política de formação de recursos humanos que a nossa sociedade realmente necessite, para que possamos diminuir o número de cadeiras vazias em sala de aula. Isso inclui modificar alguns cursos, ampliar o número de vagas, ampliar as formas de ingresso e fazer um investimento para que possamos oferecer um ensino que vai levar à formação de profissionais que a sociedade realmente precisa. Tanto no período noturno quanto no diurno.

Temos uma pesquisa muito forte, com pesquisadores no topo em várias áreas de pesquisa aderentes aos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável da ONU. Estamos nos preparando para a COP 30 com muita competência. E avançamos muito na perspectiva de fortalecer os grandes centros de pesquisa associados às agendas nacionais e internacionais.

Na extensão e cultura, criamos a coordenadoria de cultura, o que foi fantástico. Agora vamos avançar também nas atividades de extensão, não só para estudantes, mas também para servidores técnicos-adminstrativos, com a inclusão deles nesses projetos todos. Tenho certeza que essa valorização da extensão tanto para docentes quanto para técnicos vai trazer uma força muito grande na nossa aproximação com a sociedade.

O Plano de Desenvolvimento Institucional foi proposto baseado em atividades transversais. Isso é importantíssimo. Dentre nossas prioridades, temos que aproximar a graduação da pós, trazer para os estudantes que entram pelo sistemas de cotas, especialmente nas áreas duras, ações de mentoria na graduação. Isso pode integrar pós-graduandos e graduandos. É um tipo de ação transversal importantíssima.

Também gestão, planejamento e governança. Você pode manter esse diálogo sempre ativo, não só dentro da universidade, mas fora. Entre as três universidades públicas, com o poder legislativo, executivo e continuar a dialogar com toda a comunidade, e o movimento estudantil.

Também caminhamos muito na Agência Unesp de Inovação (AUIN), criando o FABLAB e ampliando o programa de propriedade intelectual. Nós temos o primeiro programa de pós-graduação em em Propriedade Intelectual e Transferência de Tecnologia para Inovação do País.

E por fim, também temos prioridades na Internacionalização, outra atividade que já vem sendo feita com excelência. Nos interessa desenvolver relações entre o sul global. Queremos abrir possibilidades de formar docentes dos países africanos, e já temos um convênio muito importante nesse sentido

A Unesp está em municípios com perfis muito distintos. Como deve ser o diálogo da universidade com seu entorno?
A Unesp tem 34 campi em 24 municípios. Em algumas cidades a nossa unidade tem custeio maior do que a própria cidade em que está localizada. Então dá pra imaginar o quanto a universidade modifica seu entorno, tanto do ponto de vista econômico quanto cultural.

Sempre falamos que o território paulista é nosso campus, com suas diferentes perspectivas e realidades. Este fato de nós levarmos também cultura e formação de qualidade é transformador. Isso passa por toda a perspectiva econômica que a Unesp traz: atrai alunos de fora, gira economia dos municípios, seus docentes e servidores criam raízes na cidade…. Temos uma relação muito importante com o território paulista.

Trazemos também para essas cidades a possibilidade de usufruir de nossa estrutura e nossas atividades artísticas, culturais e de extensão. Temos projetos de extensão com populações, com o poder executivo, legislativo…. É muito forte nosso papel transformador.

Sobre os ataques à universidade, o pior já passou?
Acho que sim. Hoje estamos passando por um momento importante, em que a sociedade reconhece a ciência. As pessoas entendem que a universidade gera conhecimento e forma recursos humanos que contribuem para uma sociedade mais inclusiva, melhor, mais desenvolvida do ponto de vista humanístico, social e tecnológico.

E depois da pandemia, a ciência ficou muito mais evidente, mesmo com todo o negacionismo que ainda existe. As pessoas hoje percebem a produção de conhecimento da universidade de uma forma mais distinta. Temos que nos aproximar mais? Sim, temos que rediscutir algumas pautas fundamentais para nossa sociedade, mas a aproximação está mais nítida.

É claro que temos uma parte da população que ainda tem mais dificuldade em perceber o que fazemos na universidade. Temos um país bastante dividido, mas penso que a universidade hoje dialoga melhor com a sociedade. Estamos passando por uma transição interessante que é o fortalecimento do sistema de inclusão, que vem também com o sistema de permanência, de acolhimento à diversidade. É uma transição para um sistema que considera a questão da formação em termos de direitos humanos. Isso aproxima ainda mais a sociedade da universidade.

A Unesp tem um programa de permanência estudantil, acolhimento à diversidade e direitos humanos fantástico. Temos a Coordenadoria de Ações Afirmativas, Diversidade e Equidade (CAADI) que trata disso, a de Permanência Estudantil, e outras coordenadorias que vamos reunir em uma pró-reitoria que vai cuidar desses assuntos todos. É algo que vamos lançar nos primeiros 100 dias de gestão.

A reforma tributária vai afetar o orçamento das universidades estaduais?
O ICMS, que é a base do orçamento das universidades estaduais em todo o país, vai deixar de existir e será substituído por outro imposto. Estamos trabalhando nisso e vamos construir uma proposta para o governo estadual em conjunto com as outras estaduais paulistas no sentido de preservar nosso orçamento. Nós três somos as três primeiras em produção de conhecimento, segundo a CAPES.

Com essas ações transformadoras que temos feito, por tudo que as universidades representam, que transbordam conhecimento até para outros países, acho que não teremos dificuldade para negociar o orçamento, de forma a preservarmos as condições de excelência que as universidades paulistas têm. Isso está ligado à nossa autonomia de gestão e acadêmico-científica.


Texto: Mario Henrique Viana (Assessoria de Imprensa da SBQ)



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