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48ª RASBQ: Jovens pesquisadores organizam temática sobre saúde mental para todas as idades
Desde a pandemia de Covid-19, o tema saúde mental tem sido cada vez mais frequente nas rodas de conversa entre estudantes e pesquisadores, seja na graduação ou na pós. Ansiedade, burn-out e depressão são condições que se tornaram comuns no ambiente universitário e têm afetado o desempenho acadêmico e a vida pessoal de químicos e químicas. Tanto que este tema foi o mais requisitado por integrantes do comitê Jovens Pesquisadores SBQ quando iniciou-se a preparação para os eventos do comitê na 48a RASBQ.
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Gabriel de Biási Báfero (CNPEM): "Queremos entender como os profissionais têm abordado essa questão, como as instituições têm trabalhado isso, e o que ainda precisa ser feito"
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"Temos uma geração em que esse tipo de discussão é bastante presente, sobretudo no pós-pandemia", afirma o pesquisador Gabriel de Biási Báfero (CNPEM), integrante do GT RASBQ do comitê JP-SBQ.
Assim, o comitê organizou a sessão temática "Saúde mental na academia" que ocorrerá durante a 48ª RASBQ em Campinas, que trará o químico Eder do Couto Tavares (UNIFEI), que também estuda psicanálise, e a médica Tânia Maron Vichi Freire de Mello, psiquiatra, coordenadora do Serviço de Assistência Psicológica e Psiquiátrica ao Estudante da UNICAMP. A moderação será dos químicos Francisco Luan Fonsêca da Silva (UECE), Juliana Thomas (UFRGS) e Rodolfo Goetze Fiorot (UFF), que compõem a diretoria do JP-SBQ.
"Com a sessão temática, queremos estabelecer uma construção cronológica de como esse tema um dia não existiu e foi crescendo através do tempo, principalmente no pós-pandemia", assinala Báfero. "Queremos entender como os profissionais têm abordado essa questão, como as instituições têm trabalhado isso, o que ainda precisa ser feito, e quais obstáculos ou preconceitos a gente ainda precisa vencer para que mais pessoas voltem para si mesmas e pensem na importância de estar com a mentalidade saudável para poder viver bem, produzir mais e estar em comunhão com a vida pessoal."
Apesar de ser um evento do comitê de jovens pesquisadores, a sessão deve atrair químicos e químicas de todas as idades, pois o tema é de interesse amplo.
A psiquiatra Tânia Mello concedeu a seguinte entrevista ao Boletim Eletrônico SBQ:
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Quais aspectos da vida acadêmica representam um risco à saúde mental?
As diferentes etapas da vida acadêmica podem ser desafiadoras e afetar a saúde mental. Estudantes ingressantes precisam adaptar-se ao ensino superior em diferentes aspectos de sua vida. Nesse momento, é esperado que desenvolvam autonomia tanto em sua vida pessoal quanto acadêmica, muitos saindo da casa da família pela primeira vez. São eventos que podem ser bastante estressantes e nem sempre todos conseguem se adaptar bem e alguns podem se afetar mais. Se tiverem alguma predisposição, poderão desenvolver transtornos mentais. Ao final do curso, o fim da vida estudantil e incertezas sobre o mundo do trabalho podem causar ansiedade e afetar a saúde mental.
Já na pós-graduação, há muitos outros fatores estressantes: ausência de recursos suficientes para financiamento; maior exigência de autonomia acadêmica; dificuldades no ambiente de pesquisa, como problemas em equipamento; comunicação violenta nas relações interpessoais; ambiente de competição e não colaboração; dificuldades para equilibrar vida acadêmica e pessoal; e incertezas quanto ao futuro profissional, entre outros.
O desafio é o mesmo para todas as pessoas, ou existem grupos que tendem a ter mais dificuldades com saúde mental na academia?
Estudantes de primeira geração e não tradicionais de maneira geral podem enfrentar maiores dificuldades acadêmicas e emocionais. Grupos minoritários também, pois já se observa maior sofrimento e abalo na saúde mental nestes grupos. Nas áreas STEM, mulheres podem sofrer mais.
Qual deve ser o papel das universidades ao lidar com essa questão?
A universidade deve, em primeiro lugar, oferecer um ambiente inclusivo que leve em conta a diversidade e as diferentes trajetórias dos estudantes e demais membros da comunidade acadêmica em geral. Isso é preventivo em termos de saúde mental. E reconhecer que algumas pessoas poderão desenvolver transtornos mentais e que isso afetará o sucesso no ensino e na pesquisa. Deve haver portanto uma política de enfrentamento dessas questões, com estratégias para acolher, encaminhar para profissionais e fazer adaptações nos momentos em que for necessário. O que não significa afetar a qualidade do ensino e da produção científica.
Em linhas gerais, poderia dar um resumo do que você irá falar na sessão temática?
Ambientes psiquicamente saudáveis não são incompatíveis com excelência acadêmica e produtividade científica, ao contrário. Falarei sobre promoção de ambientes psiquicamente saudáveis e o papel que a universidade como instituição e os membros da comunidade acadêmica podem desempenhar nessa promoção. Falarei um pouco sobre detecção e manejo de crises quando estas ocorrem.
Texto: Mario Henrique Viana (Assessoria de Imprensa da SBQ)
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