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Boletim Eletrônico Nº 1649 - 08/05/2025




DESTAQUE

48ª RASBQ: Fábio Rocha olha para o passado e o futuro da química analítica verde


Historicamente, para se identificar uma amostra de leite adulterado foram desenvolvidos métodos analíticos que envolvem solventes orgânicos e reagentes tóxicos. Apesar de funcionarem muito bem, esses métodos vêm aos poucos dividindo espaço com métodos mais verdes. A equipe do Professor Fábio Rocha (CENA-USP) desenvolveu um teste que utiliza apenas água e etanol para determinar se os teores de gordura e proteína são compatíveis com o volume do leite.

Fabio R. P. Rocha (CENA-USP): Técnicas analíticas verdes para detecção de adulteração em alimentos e combustíveis incluem até aplicativo para leitura de cor da mistura

"Quando se adultera leite, geralmente você tem um aumento de volume. Isso altera o teor de proteína e gordura. Nosso procedimento usa etanol para precipitar a proteína e, ao mesmo tempo, dissolver a gordura. Com o sistema em duas fases, conseguimos medir a massa da proteína e a quantidade de água necessária para que ocorra a turvação do extrato etanólico, que é inversamente proporcional ao teor de gordura", explica o docente. Este método é ideal para triagem nas diferentes etapas da cadeia produtiva (produção, laticínios, transporte e armazenamento), é rápido e de baixo custo, e pode ser feito em qualquer etapa da cadeia."

Fábio Rocha é um dos conferencistas da 48a Reunião da SBQ (8 a 11 de junho, em Campinas), onde falará sobre "Química Analítica Verde: aspectos históricos, estado da arte e contribuições brasileiras".

Outro sistema desenvolvido pelo grupo do Professor Rocha utiliza o etanol para solubilizar o óleo diesel e avaliar o teor de biodiesel na mistura. "Nesse caso, exploramos as diferenças de solubilidade em etanol/água. O biodiesel é pouco solúvel, mas o diesel é muito menos. Quando o limite de solubilidade do diesel é alcançado, ocorre uma turvação, que indica o teor de biodiesel na mistura", conta o docente. Essa técnica, que permite rapidamente avaliar a conformidade do produto, está sendo avaliada por um grupo de trabalho que envolve a ABNT, a Agência Nacional do Petróleo (ANP) e a Petrobras, como uma alternativa ao método oficial.

Além do esforço para reduzir a utilização de solventes e reagentes tóxicos, eficiência energética também é uma preocupação da química analítica verde. Nesse sentido, o grupo do Professor Rocha vem pesquisando a utilização de câmeras de celulares conectadas a aplicativos que fazem a leitura da cor de uma amostra pela foto pelas medidas de vermelho, verde, e azul. "Para essa técnica, é preciso gerar uma espécie com cor, e a medida da cor nos dá o teor da substância analisada", descreve.

Em sua conferência, o Professor Rocha abordará aspectos disruptivos no desenvolvimento da Química analítica verde e ressaltará importantes contribuições brasileiras a essa área, em contínuo crescimento. Também discutirá sobre a adequabilidade das métricas para a avaliação do enquadramento às premissas da química analítica verde e identificação de perspectivas de melhora dos métodos.

"Essa é uma discussão que começou nos anos 90. Antes bastava substituir um reagente para o método ser considerado 'verde'. Depois, começaram a surgir as métricas. Hoje são pelo menos 25 métricas para se avaliar se um processo analítico é verde. Algumas ressaltam um aspecto, outras ressaltam outro, e métricas diferentes nem sempre apontam na mesma direção", relata o Professor Rocha. "Com tantas ferramentas, a comparação entre processos analíticos fica difícil."

Em comum. as métricas têm como ponto de partida os 12 princípios da química verde de John Warner, os 12 princípios da química analítica verde, e os 10 princípios do preparo de amostras verdes. Um processo é avaliado a partir de uma pontuação inicial que vai sendo subtraída de acordo com a não conformidade do processo em relação a estes princípios.

No mundo ideal da química analítica verde, não haveria o uso de qualquer reagente, o uso de energia seria mínimo, a análise poderia ser feita in situ, e o processo permitiria a avaliação de muitas amostras e parâmetros simultaneamente. "Isso é utópico. Não existem processos com todas essas características", afirma o docente. "Na química analítica, o estado arte ainda não é tão verde."


Texto: Mario Henrique Viana (Assessoria de Imprensa da SBQ)



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