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Boletim Eletrônico Nº 1653 - 05/06/2025




DESTAQUE

48ª RASBQ: Sessão temática destaca o papel da química analítica para entender as mudanças climáticas


O papel da química analítica na compreensão das transformações no meio-ambiente é o foco da Sessão Temática "Do Passado ao Futuro: Como a Análise de Amostras Ambientais Revela Evidências sobre as Mudanças Climáticas?", na 48a Reunião Anual da SBQ. O evento começa neste domingo (8), no Expo Dom Pedro, em Campinas (SP), e as sessões temáticas ocorrerão no dia 11, das 14h às 16h.

"A ideia desta sessão temática é fazer uma abordagem temporal de forma a esclarecer como as respostas químicas que a ciência já nos revelou no passado nos posiciona no presente, e como caminham as pesquisas tendo em vista um futuro próximo, para que tenhamos mais evidências que auxiliam na conscientização da população e na elaboração de políticas públicas", explica a professora Maria Lucia Arruda de Moura Campos (FFCLRP-USP), palestrante da sessão.

Para isso foram convidados especialistas em análises de dados do oceano: Maria Lucia Arruda de Moura Campos (FFCLRP-USP); da atmosfera: Prof. Arnaldo Alves Cardoso (IQ-Ar-UNESP); e do gelo: Prof. Jefferson Cardia Simões (UFRGS).

Simões é glaciologista, pioneiro nesta área no Brasil, e líder científico do Programa Antártico Brasileiro. Já esteve na Antártica 29 vezes, mas seus testemunhos de gelo também vêm dos Andes Peruanos. "Os testemunhos do gelo são uma maneira de reconstruirmos a história da química atmosférica e da variabilidade climática antes dos sistemas de medição direta", conta. "Basicamente fazemos perfurações cilíndricas e transportamos o gelo em estado sólido para o laboratório, para então realizar uma bateria de análises químicas, e entender o que aquela secção de gelo nos revela."

Prof. Jefferson Cardia Simões (UFRGS) com um cilindro de gelo antártico: 100 metros de profundidade guardam segredos de 4 mil anos

Dados meteorológicos começaram a ser coletados por volta de 1820, e os dados da química atmosférica no final dos anos 1950. No gelo antártico, cada cem metros de profundidade correspondem a 4 mil anos de história. "Essa técnica nos deu informações fidedignas sobre aspectos da química atmosférica há centenas de milhares de anos, como por exemplo a concentração de gases de efeito estufa", afirma Simões. "Mas com o derretimento das geleiras, muitas informações sobre o passado da atmosfera e do clima serão perdidas."

Com seus colegas e alunos no Grupo de Testemunhos de Gelo e Glacioquímica, dentro do Centro Polar e Climático na UFRGS, Simões realiza trabalhos de campo regularmente na Antártica e nos Andes peruanos. Os dados coletados na Antártica trazem informações sobre a química atmosférica e a variedade do clima em escala global, e as perfurações no Peru têm como foco de estudo a história do clima e das queimadas na Amazônia. O trabalho é feito em colaboração com a Universidade do Maine (EUA), de Milão e de Veneza. Dentro da grande variedade de análises que é feita nos cilindros de gelo, o grupo do Professor Simões especializou-se na determinação da concentração iônica. Pelo Web of Science, ele tem 431 trabalhos publicados, com 2154 citações.

Bem longe do gelo e das temperaturas polares, o químico Arnaldo Alves Cardoso (IQ-Ar/UNESP) estuda as transformações causadas pela atividade humana na região da Serra do Mar, em Caraguatatuba, litoral paulista, onde a Petrobras processa o gás natural do pré-sal e transporta para o Vale do Paraíba por meio de um gasoduto instalado na serra. Na região também se verifica grande movimentação de navios no Porto e São Sebastião.

"Me interessei pela região por ser um local em processo de industrialização e pelo fato de não existir nenhum dado de avaliação atmosférica de Caraguatatuba e São Sebastião", conta o docente.


Prof. Arnaldo Alves Cardoso (IQ-Ar/Unesp): "Os processos industriais podem fazer reações químicas com o spray marinho e mudar a composição das gotículas, que podem se tornar ácidas"

Naquela região, a Serra do Mar chega bem perto do litoral, de modo que existe uma faixa litorânea estreita. É uma região com ocorrência de spray marinho e de altos índices pluviométricos, sobretudo no topo da serra. Durante o dia, o spray marinho vem em direção à Serra e sobe bem rente à montanha. Quando sobe, a temperatura diminui e as gotículas condensam, em um processo natural de geração de umidade.

"Os processos industriais podem fazer reações químicas com esse spray e mudar a composição das gotículas, que podem se tornar ácidas ao reagirem com os gases SO2 e NO2. Isso modifica a propriedade das gotículas de absorver umidade, e pode mudar o regime de chuvas na serra e a composição do solo", explica o Professor Cardoso.

Para medir a diferença das gotículas do spray, a equipe do Professor Cardoso instalou sensores em um parque ecológico no pé da serra e no planalto e realizou coletas de manhã e de noite (quando as massas de ar invertem a direção). "Conseguimos estabelecer parâmetros iniciais. A ideia é que se repitam esses estudos para avaliar, com o tempo, o impacto das mudanças geradas pelas emissões industriais. Esses estudos são essenciais nos locais em que a Petrobras explora e transforma o petróleo", assinala.


Texto: Mario Henrique Viana (Assessoria de Imprensa da SBQ)



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