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Boletim Eletrônico Nº 1658 - 24/07/2025




DESTAQUE

Modelo de financiamento da Embrapii conecta grupos de pesquisa a empresas que buscam inovação


Uma modalidade de investimento em desenvolvimento tecnológico que vem crescendo ano a ano no Brasil é a aproximação entre indústrias e centros de pesquisa, promovida pela Embrapii - Empresa Brasileira de Pesquisa e Inovação Industrial.

Diferentemente dos modelos tradicionais de fomento, baseados em editais para transferência de recursos, o sistema da Embrapii é tripartite. A empresa dispõe de uma base de unidades credenciadas instaladas em centros de pesquisa em todas as regiões do Brasil. Essas unidades conectam demandas do setor industrial com grupos de pesquisa dotados de infra-estrutura e capacidade científica para desenvolver soluções tecnológicas inovadoras. Neste modelo, a Embrapii investe um terço do valor do projeto, e a empresa e a unidade-Embrapii dividem o custo restante. Como contrapartida, a unidade-Embrapii recebe royalties se o projeto der certo.

Álvaro Prata, presidente da Embrapii: "A missão da Embrapii é ser para a inovação industrial o que a Embrapa é para a agricultura"

O presidente da empresa, professor Álvaro Prata (UFSC), participou do simpósio "Emergências Climáticas? A Química Age e Reage", na 48a Reunião Anual da SBQ, onde explicou o modelo de negócios da Embrapii para a comunidade química. "A missão da Embrapii é ser para a inovação industrial o que a Embrapa é para a agricultura", declarou.

Em sua visão, a química é uma ciência essencial para a inovação industrial — da transformação de matérias-primas ao desenvolvimento de materiais sustentáveis. "Acreditamos que a química será protagonista da nova economia — mais verde, circular e tecnológica — e queremos o Brasil entre os líderes dessa transformação", afirma.

O ex-presidente da SBQ, Prof. Norberto Peporine Lopes (FMRP-USP) está envolvido em um projeto submetido à Embrapii, para o desenvolvimento de um produto veterinário para tratamento do Cascudinho da Granja, uma praga importante do frango. Seu grupo de pesquisa - o Núcleo de Pesquisa em Produtos Naturais e Sintéticos (NPPNS) - foi procurado pela start-up Decoy – empresa criada em 2014 por alunos da USP Ribeirão para trabalhar com controle biológico de pragas – para contribuir no aprimoramento do produto farmacêutico e chegar aos princípios ativos, para serem produzidos por fermentação, e usados via pulverização.

O projeto propõe o desenvolvimento de um coquetel enzimático composto por quitinase, protease e lipase, com o objetivo de otimizar o controle biológico do inseto Alphitobius diaperinus (cascudinho da cama de aviário), uma praga de grande impacto na avicultura. A estratégia baseia-se na degradação enzimática da cutícula quitinosa do inseto, facilitando sua infecção por fungos entomopatogênicos ou a ação de seus metabólitos, promovendo sua morte de forma sustentável e ambientalmente segura. As enzimas serão produzidas por fungos filamentosos isolados, cultivados por fermentação submersa, com suas atividades caracterizadas por métodos bioquímicos e espectrometria de massas (MALDI-MS), garantindo a qualidade e eficácia do coquetel.

"O modelo Embrapii ajuda a catalisar um projeto muito rapidamente, pois quando a empresa investe em PD&I, o investimento é duplicado pela contrapartida financeira. Isso garante gestão de qualidade e acesso a pesquisadores de excelência e especializados no tema", explica Peporine, que também coordena o INOVAUSP complexo Ribeirão Preto.

Para o CEO da Decoy, Lucas von Zuben, o fato de a Embrapii ter uma unidade dentro da universidade em Ribeirão é valioso e ajuda a dar dinâmica ao projeto. "Ainda estamos conhecendo a Embrapii, mas ter um escritório local é ótimo, pois quase tudo se resolve rapidamente", observa.

O projeto será executado em 24 meses, com entregas parciais a cada 8 meses, abrangendo a seleção de cepas, produção e estabilização das enzimas, formulação do coquetel e testes laboratoriais de eficácia. "Nosso objetivo é gerar um bioproduto inovador, biodegradável e de alto potencial para aplicação no manejo integrado de pragas em sistemas agroindustriais", resume Von Zuben.


O presidente da Embrapii concedeu a seguinte entrevista ao Boletim SBQ:

Como o sr. avalia a dinâmica atual das relações entre universidades e indústria: as universidades têm conseguido fornecer soluções no ritmo que a indústria precisa?
A relação entre universidades e indústria no Brasil avançou, mas ainda está distante do ideal quando comparada a países como Alemanha, Coreia do Sul e EUA. Ainda há desconexão entre a produção científica e sua aplicação prática, o que se reflete nos rankings internacionais: o Brasil é o 13º em produção científica, considerando publicações registradas na base Web of Science, mas 50º em inovação no Global Innovation Index 2024.
Apesar disso, a evolução na última década é clara, com a Embrapii como uma das protagonistas nesse processo ao reduzir riscos e aproximar ciência e indústria. As Instituições de Ciência e Tecnologia (ICTs) credenciadas para atuarem como Unidades Embrapii transformam conhecimento científico em produtos e processos inovadores. O modelo EMBRAPII mostra que as universidades, quando inseridas em ambientes focados na demanda empresarial, têm agilidade e capacidade de entrega.
Do lado da indústria, o interesse é cada vez maior: já são mais de 2.200 empresas atendidas, com crescimento médio anual de 35% no valor dos projetos apoiados entre 2020 e 2024. O modelo da Embrapii facilita o diálogo e reduz a burocracia, estimulando parcerias. Embora desafios permaneçam, como ampliar a cultura de inovação e o foco em resultados tecnológicos, os números mostram que estamos no caminho certo: desde 2014 a EMBRAPII apoiou quase 3,3 mil projetos de PD&I com investimento de R$ 6,24 bilhões, sendo 168 projetos e R$ 267 milhões aplicados em tecnologias na área química.
Em resumo, a universidade pode acompanhar o ritmo da indústria com mediação eficiente e incentivos corretos — e a experiência da Embrapii comprova que essa interação funciona.

O alto custo de novas tecnologias ainda é um entrave para a adoção dessas tecnologias pela indústria?
O custo é sem dúvida um fator relevante, especialmente para tecnologias em maturação, mas o principal entrave é o risco associado a investimentos em inovação. É aí que a Embrapii atua, dividindo os custos para reduzir o risco tecnológico.
Em nossos projetos, grandes empresas têm, em média, um terço dos custos cobertos com recursos não reembolsáveis; médias empresas com faturamento anual de até R$ 90 milhões podem ter apoio de até 50% do projeto; e para micro e pequenas o recurso da EMBRAPII pode chegar a 80% do projeto, com o apoio adicional do Sebrae. Além disso, nosso modelo ágil e livre de burocracia facilita o desenvolvimento rápido e com menor custo operacional.
A experiência mostra que, no longo prazo, a inovação traz retornos superiores, seja em produtividade, seja em novos mercados. Assim, o gasto em inovação, quando gerido em colaboração com ICTs de excelência, deixa de ser uma barreira e transforma-se em investimento estratégico.

O Brasil tem uma matriz energética limpa e muitos recursos naturais. O que falta para o país ser um dos líderes na transição para uma economia de baixo carbono?
O Brasil tem, sem dúvida, potencial extraordinário para liderar essa transição para uma economia de baixo carbono: matriz energética limpa, abundância de recursos renováveis e base científica sólida. O desafio é transformar esse potencial em liderança prática, o que exige mais investimentos em inovação e forte conexão entre ciência, indústria e políticas públicas.
A transição climática não será feita apenas com boas intenções – ela exige soluções práticas, economicamente viáveis e escaláveis. A Embrapii apoia esse movimento: já são mais de 250 projetos em tecnologias de transição energética, com R$ 668 milhões investidos. Unidades como o Senai ISI Química Verde, o INT e o Tecnogreen-USP se destacam na nossa rede com projetos para o desenvolvimento de, por exemplo, solventes verdes, produção de biogás com resíduos agroindustriais e biomassa substituindo carvão mineral no processamento do minério de ferro.
Recursos do fundo alemão International Climate Initiative (IKI) ampliarão essa atuação, com foco na descarbonização das cadeias da siderurgia e cimento, setores com as maiores emissões dentro da indústria. Os projetos serão executados pela Embrapii em parceria com o Senai, a CNI, o BNDES e a agência de cooperação alemã Giz. A química tem papel essencial nesse foco, com novas tecnologias como substituição de insumos até a captura e conversão de CO₂. O Brasil já reúne competências e infraestrutura; agora precisa acelerar a escala e consolidar parcerias estratégicas para liderar a economia verde global.

Um recado para a comunidade química?
A Química é essencial para a inovação industrial — da transformação de matérias-primas ao desenvolvimento de materiais sustentáveis. A Embrapii convida as empresas do setor químico a desenvolverem projetos de PD&I com o nosso apoio, oferecendo recursos não reembolsáveis e acesso a ICTs de excelência. Acreditamos que a química será protagonista da nova economia — mais verde, circular e tecnológica — e queremos o Brasil entre os líderes dessa transformação. Estamos à disposição para construir parcerias e transformar conhecimento em valor para a indústria e a sociedade.


Texto: Mario Henrique Viana (Assessoria de Imprensa da SBQ)



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