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Tributo ao Prof. Yoshiyuki Hase
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É com profundo pesar que se registrou no dia 10 de julho o falecimento do Professor Yoshiyuki Hase, cuja trajetória científica e acadêmica foi marcada pelo rigor, discrição e contribuições inestimáveis à Química no país e no cenário internacional. Natural do Japão, graduou-se em Bacharelado em Ciências (Química) pela Toyama University em 1971. Veio ao Brasil no início da década de 1970, onde iniciou sua carreira acadêmica realizando o mestrado (1972–1974) e o doutorado (1974–1977) em Química (Físico-Química) na Universidade de São Paulo (USP), sob orientação do Professor Oswaldo Sala, uma das principais referências em espectroscopia vibracional no país. Desde então, sua atuação se concentrou nas áreas de espectroscopia, análise de coordenadas normais, efeito isotópico, vibração no estado sólido e química computacional.
Ingressou na Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP) em 1975, onde obteve a livre-docência em 1984, foi promovido a professor adjunto em 1989 e, posteriormente, aprovado em concurso público como professor titular em 2002. Manteve-se ativo no Instituto de Química da UNICAMP até 2012, sendo amplamente reconhecido pela profundidade de seu pensamento científico, pela excelência de sua produção acadêmica e pela seriedade com que tratava o ensino e a pesquisa.
Entre os colegas e alunos de graduação e pós-graduação, o Professor Hase era reconhecido por seu perfil reservado, cordial e intelectualmente exigente. Seu convívio com os pares era marcado pela discrição e pela escuta atenta, frequentemente acompanhada de senso de humor sutil. No ambiente acadêmico, raramente oferecia respostas diretas às perguntas que lhe eram dirigidas, preferia devolver com questões mais amplas, instigando uma reflexão mais profunda e incentivando o pensamento independente.
Como professor, ao ser indicado para compartilhar disciplinas de pós-graduação, não era raro que assistisse a algumas aulas ministradas por colegas, a fim de avaliar o nível de profundidade e orientar o encaminhamento da disciplina. Nessas ocasiões, ao perceber a hesitação dos alunos em participar, tomava a iniciativa, ainda na posição de ouvinte, de formular perguntas simples, porém conceitualmente precisas, criando um ambiente mais receptivo à participação e ao diálogo. Essa sensibilidade pedagógica contribuiu de forma discreta, mas eficaz, para tornar as aulas mais inclusivas e intelectualmente estimulantes.
Sua dedicação à pesquisa científica foi constante e exemplar. Em um período em que a média de publicações por docente no Instituto de Química era de dois a três artigos por ano, o Professor Hase mantinha uma produção significativamente superior, muitas vezes como autor único. Por diversos anos, destacou-se como o docente mais produtivo do Instituto. Seus trabalhos, de caráter meticuloso e aprofundado, foram publicados em periódicos internacionais de reconhecido prestígio, alcançando impacto além das fronteiras nacionais e contribuindo para o avanço do conhecimento em espectroscopia molecular e química teórica.
Sua presença em eventos científicos promovidos por entidades e eventos como Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC), Sociedade Brasileira de Química (SBQ), Simpósio Brasileiro de Química Teórica (SBQT), Encontro Regional de Química, entre outros, era constante e ativa. Mais do que mero participante, o Professor Hase marcava presença nas sessões de painéis e apresentações, onde sua intervenção sempre elevava o nível da discussão. Era comum, entre os pesquisadores, o reconhecimento de que, ao vê-lo se aproximar de um trabalho, era preciso estar preparado para enfrentar perguntas que iam além do imediato e que tocavam aspectos fundamentais da pesquisa apresentada.
A trajetória do Professor Yoshiyuki Hase deixa um legado de seriedade, consistência e contribuição silenciosa, mas transformadora. Sua atuação como docente, pesquisador e formador de novas gerações continuará a inspirar todos aqueles que tiveram o privilégio de aprender com ele e de compartilhar sua convivência acadêmica como professor e amigo.
Fonte: Edvaldo Sabadini e Rogério Custodio
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