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X BCNP: Preocupação com mudanças climáticas e a ameaça do PL da Devastação

Evento será realizado em Belo Horizonte, de 4 a 7 de novembro

Dados preliminares de uma pesquisa conduzida pelo Professor Paulo Zarbin, coordenador do Laboratório de Semioquímicos do IQ-UFPR, indicam que alterações na temperatura e na concentração de carbono na atmosfera podem afetar a comunicação química entre plantas e insetos, com consequências no comportamento das espécies.

Ele tem um trabalho consolidado com controle biológico de pragas por meio da síntese e liberação de feromônios de insetos como besouros, mariposas e percevejos. Agora quer entender se os resultados que vem obtendo ainda valerão em um ambiente 2ºC mais quente.

"Plantas se comunicam com insetos por emissão de compostos voláteis. Em simulações de laboratório, observamos diferenças de respostas dos insetos diante das alterações, o que indica uma dificuldade de interpretação do sinal emitido pela planta", conta.

Uma parte do trabalho será apresentada no X BCNP (Brazilian Conference on Natural Products), que será realizado na UFMG, de 4 a 7 de novembro, e que irá debater a interação entre as ações contra as mudanças climáticas e a preservação dos biomas.

Comissão organizadora do IX BCNP (2023, Salvador). Para esta edição, são 402 trabalhos submetidos e mais de 550 pessoas inscritas.

Segundo a ONU, quase 80% das pessoas mais pobres do mundo, cerca de 900 milhões, estão diretamente expostas a perigos climáticos exacerbados pelo aquecimento global. O Brasil já enfrenta uma elevação média de temperatura de 1,2ºC nos últimos 100 anos, sendo algumas regiões, como o vale do Rio São Francisco e a região Leste da Amazônia, particularmente afetadas, com aquecimento em cerca de 2,3ºC. Alterações no regime de chuvas também se manifestam, com reduções significativas, como 20% no Nordeste e 15% na região Leste da Amazônia.

"As mudanças climáticas estão alterando os padrões de nossa biodiversidade e colocando nossos biomas em risco. Queremos debater esse tema no BCNP para entender como nós, pesquisadores, podemos contribuir com o desenvolvimento de políticas públicas eficazes", relata a Professora Lucia Pinheiro Santos Pimenta (UFMG), tesoureira da Divisão de Produtos Naturais da SBQ, e organizadora do evento.

A conferência de abertura será proferida pela bióloga Mercedes Bustamante (UnB), ex-presidente da CAPES, uma das maiores especialistas em cerrado e mudanças climáticas, do Brasil. "Vou falar sobre a sinergia entre a agenda climática e a agenda de conservação, para fazer a conexão entre essas duas grandes crises globais – a crise da biodiversidade e a crise do clima – e como essa sinergia entre as agendas repercute no Brasil", afirmou ao Boletim Eletrônico SBQ.

Segundo ela, essa é uma demanda global. "No mundo como um todo, sentimos que existe necessidade da convergência entre estas agendas. No caso do Brasil, a maior parte das emissões vem do setor de uso da terra: desmatamento, agricultura em escala industrial. Então, quando lidamos com estratégias de redução de emissões, elas também devem passar por conversas com o setor de conservação ecológica."

A lógica é simples: ao resolver o problema do desmatamento, o Brasil contribui com a agenda de conservação da biodiversidade. E ao conservar a biodiversidade dos ecossistemas, isso nos permite maior potencial de adaptação aos impactos da mudança climática.

Em termos regulatórios, o Código Florestal (Lei 12.651-2012) – que deveria combater o desmatamento e proteger os biomas – está defasado. A última revisão da lei foi feita em 2012, e passados 13 anos, algumas ferramentas definidas na época ainda não foram totalmente implementadas, como o cadastro ambiental rural.

Atualmente o chamado PL da Devastação (PL 2.159-2021) é uma grande fonte de preocupação para cientistas e a população como um todo. A discussão dos vetos presidenciais foi suspensa e só deve ser retomada no Congresso depois da COP 30. "Esse PL vai na contramão de tudo que se faz hoje. É um retrocesso tremendo. Ninguém nega que se pode tornar o processo de licenciamento mais eficaz, porém não podemos abrir mão da proteção do coletivo", assinala a Profa. Bustamante.

"O PL da Devastação não pode passar do jeito que está. Será uma tragédia", reforça a Profa. Pimenta.

O X BCNP está com 402 trabalhos submetidos (pôster e flash-pôster presentations), e mais de 550 pessoas inscritas. No programa, conferências que abordarão diversos aspectos da Química de Produtos Naturais: Biossíntese e biologia molecular dos produtos naturais; Síntese orgânica; Biodiversidade e produtos naturais; Atividade biológica e farmacológica dos produtos naturais; Produção e controle de qualidade de fármacos e óleos essenciais; Metabolômica; Avanços recentes em metabólitos secundários; e Ecologia química.

"Existe uma noção equivocada de que a química dos produtos naturais está ligada apenas aos setores de saúde, cosméticos e agro, mas as pesquisas vão muito além dessas áreas", conta a Profa. Pimenta. Ela mesmo, com seus alunos do CerQbio - Laboratório de Quimio e Bioprospecção de Plantas do Cerrado, teve uma pesquisa em colaboração com a Boeing para investigar produtos naturais inibidores de corrosão, com o objetivo de substituir o uso do cromo na fabricação de aeronaves. A pesquisa gerou uma patente – concedida em menos de seis meses pelos Estados Unidos – de um sistema de seleção de substâncias com propriedades anticorrosivas, para aplicação em substratos.

No evento também serão entregues os prêmios Otto Gottlieb para pesquisadores plenos e jovens pesquisadores brasileiros cujas contribuições científicas excepcionais impulsionaram significativamente o campo da Química de Produtos Naturais e, consequentemente, o desenvolvimento da Química no Brasil.

Saiba mais: 10th Brazilian Conference on Natural Products


Texto: Mario Henrique Viana (Assessoria de Imprensa da SBQ)