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Boletim Eletrônico Nº 1305

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15/02/2018



41ª RA: a busca por fármacos de Luiz Carlos Dias


Professor da Unicamp fará conferência sobre sua pesquisa com doenças negligenciadas, como malária, Chagas e leishmanioses

O caminho de transformar uma molécula em um medicamento é longo, cheio de barreiras, e requer uma boa dose de disciplina e seriedade. É assim, com dedicação intensa e cercado de cientistas competentes, que o professor Luiz Carlos Dias (Unicamp) desenvolve um dos trabalhos mais importantes na química medicinal no Brasil. Ele coordena o Laboratório de Química Orgânica Sintética (LQOS), onde conduz linhas de pesquisa visando à síntese total de produtos naturais com atividade farmacológica pronunciada e metodologias sintéticas. Seu objetivo é chegar a fármacos eficazes contra doenças parasitárias tropicais negligenciadas pela indústria farmacêutica, como malária, doença de Chagas e leishmanioses. Na 41ª Reunião Anual da SBQ, que será realizada de 21 a 24 de maio, em Foz do Iguaçu, Dias fará conferência sobre a evolução de seus projetos com a Medicines for Malaria Venture (www.mmv.org) e a Drugs for Neglected Diseases initiative (www.dndi.org), organismos internacionais de combate a doenças negligenciadas.

Professor Luiz Carlos Dias (Unicamp): "As pessoas não têm uma percepção clara sobre a contribuição da ciência para a vida neste planeta. Precisamos trabalhar no sentido de diminuir a alienação da sociedade com relação à ciência e à tecnologia."

"As perspectivas são excelentes, e temos resultados muito promissores, principalmente com a malária", conta Dias. "Estamos aumentando o grupo com mais pós-docs, o nosso network, com a participação de mais instituições e empresas, e temos adquirido mais conhecimento sobre essa atividade de descoberta de fármacos, algo inédito no Brasil." No LQOS, Dias e sua equipe recebem moléculas, projetam as rotas de síntese e modificações químicas, executam a síntese em si e realizam testes – no Brasil e no exterior – , para que essas moléculas venham a ser testadas em humanos. "Não basta você ter uma ótima atividade contra os parasitas in vitro. Nós temos moléculas que matam os parasitas causadores da malária e da doença de Chagas rapidamente, mas paramos de trabalhar com elas porque perderam atividade contra cepas resistentes, ou porque inibem canais hERG, interagem com quinases humanas, apresentam problemas de solubilidade, são inibidoras de CYP51, apresentam baixa estabilidade metabólica, alto clearance, toxicidade, ou baixo perfil farmacocinético e farmacodinâmico", explica.

Para o diretor da Divisão de Química Medicinal da SBQ, Rafael Guido (IFSC-USP), a conferência será muito atrativa para os pesquisadores brasileiros, pois o professor Dias tem casos de sucesso para compartilhar. "Acompanho o trabalho do professor Dias e sua equipe, e eles fizeram progressos significativos na área de descoberta de compostos ativos para as doenças parasitárias nos últimos três anos", declara.

Dias tem sido um dos mais ativos químicos nas redes sociais na defesa da ciência na questão da fosfoetanolamina sintética, que ganhou fama como a "pílula do câncer", e que vem sendo vendida pela internet como suplemento alimentar e usada por pessoas na tentativa de tratar a doença. Com sua equipe, Dias realizou análise química e caracterização da substância em duas oportunidades diferentes (veja edições 1217 e 1285 do Boletim Eletrônico SBQ) e demonstrou diversas diferenças entre o que a mistura continha e o que era alegado que ela continha. "Este caso é típico da falta de conhecimento científico básico da população", reflete o professor. "Nossos parlamentares e assessores necessitam urgentemente ser informados sobre temas de ciência e tecnologia, para evitar absurdos como esse."

Formado na UFSC, doutor pela Unicamp, com pós-doutorado em Harvard, Dias tem 108 artigos publicados, com mais de 2.800 citações e índice H 30 pelo Web of Science. É professor titular da Unicamp onde iniciou suas atividades como docente em 1992. Orientou 26 alunos de mestrado, 16 de doutorado, 28 de iniciação científica e supervisionou 20 pós-doutorandos e 3 estagiários. Em 2008, teve seu laboratório credenciado pela Organização Mundial da Saúde (WHO) como centro de referência mundial para síntese de compostos para tratamento da Doença de Chagas.

Além da conferência de Dias, a Divisão de Química Medicinal realizará na 41ª RASBQ as seguintes atividades: Workshop de Química Orgânica e Medicinal "Da Academia até a Iniciativa Privada", a sessão temática "A Química da vida: da célula ao reator", e o minicurso Planejamento de fármacos.

O professor Luiz Carlos Dias escreveu a seguinte pensata para o Boletim SBQ:

Não negligenciar a ciência

Estamos todos muito preocupados com os recentes cortes no orçamento do MCTIC (Ministério da Ciência, Tecnologia, Inovações e Comunicações). A ciência salva vidas, ciência é desenvolvimento, mas o atual governo parece não saber disto. Não sabe que há um retorno garantido pelo financiamento, pelo investimento na ciência e tecnologia. A ciência, que já tem um orçamento bem menor se comparado ao de outras áreas, vem sofrendo muitos cortes nos últimos anos. Hoje, corremos sérios riscos de passar por um enorme atraso social e científico, de perder a competência construída ao longo de muitas décadas.

A universidade produz conhecimento, que deve ultrapassar suas barreiras e chegar até a sociedade. Pesquisa básica é e sempre será importante, mas a universidade não pode estar dissociada da sociedade. A universidade do amanhã deve atender a um novo projeto de sociedade, que exige produção de pesquisas, de desenvolvimento e de transferência tecnológica com impacto social. A universidade hoje tem que constantemente refletir de que forma as pesquisas aqui desenvolvidas podem contribuir e ter impacto no desenvolvimento social.

Com certeza, não surge nada novo hoje que não seja resultado da pesquisa científica. No Brasil, a ciência e a tecnologia não estão incorporadas na sociedade, têm pouca inserção e interação com a população. Acredito que a sociedade tenha apenas uma pequena consciência da importância da ciência e da tecnologia para a melhoria da qualidade de vida de nossa população. Infelizmente, para a sociedade e o cidadão comum, não ligado às áreas de ciência e tecnologia, predominam a superstição, as crendices e o charlatanismo.

O caso da fosfoetanolamina sintética, a chamada pílula do câncer é típico. Os descobridores da fosfoetanolamina sintética divulgaram sua eficácia na cura de vários tipos de tumores malignos, mas nunca apresentaram documentação comprovando isto. Eles nem conheciam o conteúdo das cápsulas de fosfoetanolamina. A inclusão social é um dos maiores desafios no Brasil de hoje, em virtude das desigualdades sociais, péssima distribuição da renda e da riqueza, da terra, do acesso aos bens materiais e culturais e do acesso a conhecimentos científicos e tecnológicos. O que percebemos é uma total ausência de educação científica de qualidade no ensino fundamental e médio do País. Sem dúvida, precisamos formar mais profissionais qualificados em número suficiente para que possam contribuir para o aumento do conhecimento científico e do interesse pela ciência e tecnologia entre os mais jovens.

Nossa juventude está, em grande medida, excluída do processo de educação de qualidade por nosso sistema educacional arcaico e falho. As pessoas não têm uma percepção clara sobre a contribuição da ciência para a vida neste planeta. Precisamos trabalhar no sentido de diminuir a alienação da sociedade com relação à ciência e à tecnologia.

Sem dúvida, um dos maiores desafios para o Brasil será o estabelecimento de um sistema de educação pública que possa permitir que nossos jovens sejam incluídos no desenvolvimento de uma ciência que fale uma língua não afastada dos problemas nacionais, com a ciência contribuindo para a melhoria de qualidade de vida de nossa população e também para o avanço do conhecimento. Para isto, os cientistas devem voltar seus interesses de pesquisas para atender as necessidades diretas da população, como saneamento básico, moradia, meio ambiente, doenças tropicais negligenciadas, epidemias, pobreza, saúde, educação. É preciso dialogar com a sociedade e os governos e mostrar que a ciência, tecnologia, e pesquisa científica precisam e merecem um planejamento estratégico, pois são ferramentas essenciais para o Brasil sair definitivamente da crise.



Texto: Mario Henrique Viana (Assessor de Imprensa da SBQ)








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